A naturalização dos fenômenos sociais é uma estratégia de manutenção de privilégios


Toda vez que alguém afirma que determinado fenômeno social é natural, transmite junto com esta mensagem um subtexto de forte conteúdo ideológico: a ideia de irreversibilidade. Esta prática tem sido uma constante na discussão acerca da redução da população santista e aumento da população de municípios vizinhos.
Ao declarar que o processo é "natural", ocorre em outras metrópoles etc., o formador de opinião está embutindo a informação de que nada há a fazer para se contrapor a esta tendência. Esta arapuca ideológica leva o público a aceitar a inexorabilidade dos fatos e cruzar os braços, afinal é difícil contrapor-se à natureza.
Mas uma nova estratégia vem sendo acrescentada na luta ideológica pela manutenção do status quo no espaço urbano santista: a ideia de qualidade de vida circunscrita aos limites municipais. Esta estranha concepção de qualidade de vida ignora o fato de que, na Baixada Santista, os limites entre os municípios centrais são puras abstrações políticas. Na prática eles não existem mais, nem para as operadoras de telecomunicações que cobravam tarifas maiores para ligações entre as cidades.
De acordo com esta nova argumentação, o decréscimo da população santista é até uma coisa boa, pois densidade residencial em declínio pode ser sinonimo de mais espaço livre e consequente melhoria na qualidade de vida.
Este é um argumento muito frágil, pois a migração da população santista para municípios vizinhos vem trazendo enormes problemas urbanos para estes, além de desequilíbrios regionais muito sérios em sistemas como transportes, trânsito e serviços de educação e de saúde. Ou seja, trata-se de uma qualidade de vida limitada ao território onde habita, cada vez mais, a população de rendimentos mais altos. Contudo, nem este território está imune às consequências destes desequilíbrios. A intensificação do trânsito regional, a demanda por serviços públicos e privados nestas áreas, de forma concentrada, vão colocando em cheque frequentemente esta pretensa melhoria da qualidade de vida, que é nada mais do que uma visão de classe social, orientada para a reafirmação de seus privilégios no espaço urbano, mesmo que isto venha a lhe cobrar um preço muito caro no futuro.

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