No meio do caminho tinha um abrigo

No meio do caminho tinha um abrigo. Tinha um abrigo no meio do caminho. Não me refiro ao poema do Drummond, mas ao projeto do famigerado Veículo Leve sobre Trilhos - VLT. Eterna promessa de campanha de governos estaduais tucanos, o projeto que se transformou em verdadeira lenda urbana, também revela o profundo desconhecimento (ou pouco caso) de seus autores, pela memória local. No trecho em que o trajeto do VLT cruza com a avenida Ana Costa, o leito carroçável da avenida Francisco Glicério faz uma curva acentuada e atropela o antigo abrigo de bonde localizado em frente à Prodesan.
Conforme já denunciado pela Vereadora Cassandra (PT/Santos) ao Ministério Público estadual, o abrigo é bem protegido pela área envoltória do "Corpo principal do edifício da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, incluindo o largo a ela fronteiro, situada à Av. Dona Ana Costa n.º 340, no bairro do Campo Grande, CONDEPASA, Livro Tombo 01, inscrição 30, folha 6, Proc. 74066/98-69, Resolução SC 01/99 de 19/06/99".
Ao ler o relatório do Estudo de Impacto Ambiental da implantação do VLT, elaborado pela Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos, sabe-se porque esta "distração" ocorreu. No Capítulo IV do RIMA, dedicado à Legislação Incidente, ignora-se a legislação municipal referente à proteção do patrimônio cultural. Consequentemente, os técnicos que avaliaram os impactos da obra não foram capazes de perceber  que, no meio do caminho, estava um dos elementos arquitetônicos mais característicos de Santos, exemplar dos abrigos de bonde modernistas que ainda não foram demolidos.
(Foto: Jornal A Tribuna, 14/10/2010 - p. A3)

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