A redução da população em Santos não é um fenômeno "natural"

O professor Alcindo Gonçalves, em artigo publicado na coluna Tribuna Livre de hoje (p. A2), acrescenta mais alguns elementos na falsa polêmica acerca da redução da população de Santos, constatada nos resultados preliminares do Censo 2010. Ao responder artigo do professor Daniel Vazquez, já comentado neste blog, que apresenta dados irrefutáveis acerca das causas desta redução, Alcindo reforça a visão arraigada na sociedade de que o fenômeno da segregação socioespacial, na área central da Baixada Santista, assim como em outras metrópoles, é um fenômeno natural.
Embora esta seja uma visão do processo muito aceita pela sociedade, pois é reforçada diuturnamente pela mídia e formadores de opinião, no campo das ciências sociais, especialmente no campo do planejamento urbano e regional, é uma visão superada desde a década de 50 do século passado, quando as teses da Escola de Chicago, que desenvolveu o conceito de "ecologia urbana", passaram a ser fortemente questionadas.
Ora, a migração regional e intra-regional associada a processos de auto-segregação de população de alta renda em determinados setores metropolitanos, nada tem de natural. É um fenômeno socialmente produzido. Mais precisamente, é um fenômeno produzido pelo mercado imobiliário que concentra sua produção nos setores urbanos que lhes são mais favoráveis, em termos de garantia de margem de lucro.
Creio ser este um dos grandes desafios que temos nos próximos meses, quando se afunilará a discussão da revisão de nosso Plano Diretor: fazer o grande público compreender que é sim possível enfrentar este processo perverso, com uma política urbana mais justa.

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