As dificuldades de um projeto integrado: o caso do prolongamento da avenida Senador Feijó, em Santos

O caso relatado no post abaixo, sobre a nova sede da Petrobras, fez-me reviver um episódio ocorrido em 1996, quando estava no Departamento de Planejamento da Prefeitura de Santos. Na época era um dos responsáveis pelo projeto de prolongamento da avenida Senador Feijó, entre a rua Carvalho de Mendonça e a avenida General Francisco Glicério, na Encruzinhada.
Tratava-se de um projeto de intervenção urbana, que integrava ações do governo municipal para a execução de 22 desapropriações, da obra viária em si, e do prosseguimento da urbanização da Vila Santa Casa, favela antes conhecida como Caldeirão do Diabo.
Após muita negociação com os proprietários dos imóveis atingidos pela obra viária, conseguimos um número razoável de desapropriações amigáveis. Neste ponto rendo minhas homenagens à doutora Graça, advogada da Prefeitura, infelizmente já falecida e que perseverou na negociação, obtendo um resultado acima do esperado.
Com as negociações adiantadas, a CET elaborou o projeto executivo, em cima do projeto básico que havíamos proposto e as obras puderam ser iniciadas.
Concomitantemente, a Cohab Santista finalizava a construção do primeiro edifício destinado à moradia das famílias residentes na favela, a mais antiga da Cidade. Esta obra permitiu a retirada de barracos da área atingida pelo prolongamento da via. Lamentavelmente, este projeto habitacional veio a sofrer várias idas e vindas, nas administrações municipais posteriores e hoje se encontra paralisado.
No final daquele ano, o Prefeito David Capistrano, idealizador da intervenção, inaugurava as obras (viária e habitacional). Contudo, ainda faltava obter autorização da Fepasa, que então operava a linha férrea que cruzava o traçado da avenida, impedindo-a de conectar-se às avenidas General Francisco Glicério e Washington Luiz, o que era essencial para o sucesso do projeto.
Infelizmente, não logramos realizar esta simples obra, no governo de David, pois enfrentamos obstáculos inesperados, na negociação com a Fepasa. Na época, fui informado de que um funcionário da empresa, do qual não me recordo o nome, e que era responsável pela autorização para execução da passagem em nível, teria feito uma série de exigências "técnicas" que muito oneravam a intervenção. Contudo, o mesmo funcionário teria oferecido uma saída para a Prefeitura: adquirir um aparelho de sinalização viária de fabricação própria, muito mais barato que os disponíveis no mercado.
Ao tomar conhecimento do caso, informei o prefeito, que imediatamente se comunicou com o então governador Mário Covas. Segundo me contou o próprio David, Covas teria ficado possesso e determinou providências urgentes para resolver o problema e investigar o caso.
Mas infelizmente o ano já estava no final e, como se sabe, David entregou o cargo para Beto Mansur, em janeiro de 1997. O novo prefeito, alguns anos depois, conseguiu colocar a cereja no bolo, implantando o cruzamento em nível e "reinaugurando" o prolongamento da avenida Senador Feijó.
E la nave va.

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