Plano Diretor em debate

A carta do leitor Álvaro Vieira (ver abaixo), publicada na seção Tribuna do Leitor, da edição de hoje do periódico de mesmo nome, dá a medida do desafio que temos a enfrentar na discussão da revisão do Plano Diretor, em curso na Câmara Municipal.
O leitor está certo ao apontar o aumento da densidade residencial, em nossa cidade, como uma das causas da perda de qualidade de vida. Mas a falta de vagas para estacionamento, em vias públicas, é provocado muito mais pelo aumento da renda das famílias  e pela ampliação do crédito para aquisição de veículos, do que pela alta densidade em si. Vejam por exemplo o caso das favelas, em que a densidade residencial é muito alta, mas sobram espaços para se estacionar veículos, ainda que as vielas sejam estreitas. 
Além desse aspecto, desde a década de 1980, há estagnação da densidade residencial, nas áreas onde a falta de vaga é maior, como nos bairros da Orla. Mais recentemente,  o Censo IBGE de 2000 apontou redução da densidade, nessa região, de 244 para 236 habitantes/hectare). 
Portanto, a falta de vagas, que se tornou um problema especialmente grave na última década, pode não ter qualquer vinculação com a ampliação da densidade. Mas esta afirmação só poderemos fazer após a divulgação dos dados do censo 2010. Mas acredito que os dados vão confirmar essa tendência.
Mas o mais grave, a meu ver, é que o leitor raciocina com a lógica do proprietário de automóvel particular e não com a lógica de cidadão. A CET faz muito bem em multar e guinchar quem estaciona no local apontado, que é bem sinalizado. Além disso, ninguém, mesmo quem vem de fora, pode alegar desconhecimento das regras. 
O que falta é inverter o raciocínio, tentando entender o problema pelo lado de quem anda de ônibus e é obrigado a ter o tempo de viagem ampliado, em consequência da perda de fluidez, em vias cada vez mais atravancadas por veículos particulares, com baixa ocupação, estejam eles estacionados, ou não.
Portanto, creio que um dos grandes desafios, nesta discussão da revisão do Plano Diretor, que não deve se encerrar no final do ano, como afirma o missivista, é fazer com que as pessoas assumam uma postura mais coletiva, incorporando a lógica do interesse público e não do interesse individual. Aliás, este desafio é cotidiano e não se encerra neste processo de discussão do Plano.


Plano Diretor

A ganância das construtoras já tornou nossa vida insustentável, pela concentração de enorme população numa pequena parcela de nossa área insular e já não há mais lugar para se estacionar, as ruas não comportam a quantidade de veículos que se dirigem aos mesmos lugares, não se pode visitar amigos que morem a alguma distância de nossas casas por não ter onde parar o carro e, em alguns lugares, como no Canal 3, trecho perto da praia, há pequena placa proibindo o estacionamento das 17h às 20 horas; um turista que não sabia da restrição e não visualizou a placa, parou às 16 horas para fazer uma visita e, ao sair para retomar o carro às 18h teve a surpresa de saber que ele fora guinchado para um pátio em Praia Grande! Como a possível correção do Plano Diretor só deve ser definida no fim do ano, isso deixa bastante tempo para que as construtoras consigam a aprovação de muitos projetos de abomináveis torres que ainda irão piorar a situação. O pior, como ninguém aprende nada com a experiência alheia, os vereadores de Bertioga estão votando a permissão da construção de aberrações de 36 andares em frente à praia, para iniciar a decadência das condições de vida daquela praia tão agradável. Aqui não tem mais jeito, mas lá ainda há tempo de se reverter a situação.
ÁLVARO VIEIRA DA CUNHA ­ SANTOS

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