Nós com o filé e todos com o osso: é assim que pensa o mercado imobiliário

A matéria publicada na edição de hoje de A Tribuna (p. C3), além de nos revelar a apreciação dos imóveis em Santos, até 48%, referentes a agosto de 2009, mostra um traço esclarecedor dos empreendedores imobiliários.
A matéria merece ser lida, pois confirma tudo que vem sendo afirmado aqui neste blog, acerca do funcionamento do mercado imobiliário regional, sobretudo no que tange a sua preferência pela clientela de alta renda e a total falta de preocupação com o processo de expulsão/não-fixação dos demais clientes - os que mais demandam moradia -, na ilha de São Vicente.
Mas o que há de relevante, é o fato de que os números foram apresentados pelo próprio Secovi, o sindicado dos corretores. Estes números, aliás, mostram um quadro cruel: é justamente na faixa dos imóveis mais baratos, com um ou dois dormitórios, que houve a maior valorização: 48,05% em média para os de um e 42,22% para os de dois, respectivamente. Enquanto isso, os de três e quatro valorizaram 31,56% e 24,92%.
Porém, o que é mais importante nesta reportagem, é a singeleza com a qual os representantes do mercado avaliam os impactos na mobilidade regional, que esta dinâmica perversa provoca. O economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, acredita que um dos grandes desafios que o governo terá pela frente, é a mobilidade: "as pessoas precisam ter uma garantia de que não vão levar duas horas para fazer o caminho entre Santos e Praia Grande".
É de impressionar: o mercado, além de produzir pouco para quem precisa e promover a supervalorização imobiliária, que está na raiz da expulsão/não-fixação, ainda quer que nós, que financiamos o Estado, sejamos os responsáveis por resolver um dos problemas mais graves que provoca: a saturação do transporte e trânsito regionais. Enquanto isso, os empreendedores acumulam riqueza. Simples assim. É realmente muita cara-de-pau!

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