As avaliações dos governos municipais e a questão metropolitana


Nas últimas edições, o jornal A Tribuna divulgou nova série de pesquisas de avaliação dos governos e câmaras municipais da Baixada Santista, elaboradas por seu instituto de pesquisa, o IPAT.
Da mesma forma que ocorreu na última rodada, o único governante a obter avaliação auspiciosa foi o prefeito de Santos (ver edição de 28/8 de A Tribuna). Houve algumas variações nos índices de satisfação dos pesquisados, mas no geral a situação pouco se alterou. Ou seja, enquanto o prefeito do pólo regional surfa na onda da popularidade, seus vizinhos mais imediatos amargam preocupantes índices de reprovação.
Penso que esta situação merece uma leitura mais aprofundada do que a exposta nas várias edições do jornal, que abordaram as pesquisas de opinião. Defendo que se considere, sobretudo, a dinâmica metropolitana, em especial a demográfica, para que se tenha uma visão mais adequada do fenômeno. Creio que analisar o desempenho dos distintos governos, isoladamente, é insuficiente, em que pese as particularidades de cada um e de cada município.
Assim, começo por destacar que houve uma ligeira polarização nas avaliações (ver gráficos acima), pois mais pesquisados consideram o prefeito ótimo, ruim e péssimo. Da mesma forma, não foi surpresa alguma a avaliação do prefeito santista ser melhor para os de maior renda (explico melhor abaixo).
Mas as questões que mais afligem os santistas pesquisados são o trânsito e a saúde. E aí, a meu ver, reside a questão mais relevante. Estes serviços foram os que tiveram a pior avaliação, inclusive se comparados com a rodada anterior. Dos entrevistados, 50% avaliaram negativamente o trânsito em Santos, e 40% externaram a mesma avaliação da saúde.
Enquanto isso, a melhor avaliação do prefeito é no quesito obras (23,3%). Considero este resultado absolutamente natural, pois Papa governa a cidade com uma agenda tipicamente populista, embora seja um populismo discreto.
Explico: a manutenção e conservação de próprios e equipamentos municipais são ruins. Veja-se, por exemplo, a notícia sobre o desabamento de pilar, no Creas, na página A3 da mesma edição do jornal, assim como tantos outros equipamentos municipais que funcionam em más ou precárias condições.
Concomitantemente, o prefeito desenvolve uma série de obras, sendo a maior parte com recursos de outras esferas de governo e executada muito lentamente, passando a impressão de que a cidade vive constantemente em obras.
O resultado é que a maior parte dos munícipes tem percepção de que a cidade está sendo bem cuidada, pois somente os que demandam serviços municipais mal conservados percebem o gargalo na manutenção de edifícios e equipamentos. E tudo isso ocorre a despeito de ter sido criada uma secretaria, e muitos cargos, especialmente para agilizar a manutenção da cidade.
Mas retornando à questão do trânsito e da saúde, quero ressaltar que estas são áreas afetadas diretamente pela política urbana segregacionista desenvolvida pelos dois últimos governos municipais, em Santos.
Ao não promover uma política habitacional capaz de garantir habitação, em nível suficiente para atender a demanda surgida nas classes sociais mais pobres, e ao mesmo tempo promover um padrão de urbanização dirigido para as elites, a política urbana em curso reforça a tendência de migração, sobretudo no vetor São Vicente/Praia Grande.
A consequência deste fenômeno é a ampliação significativa dos deslocamentos pendulares diários, agravando o trânsito e demandando mais serviços de saúde no pólo regional. Portanto, é lógico que ambos os setores sejam os mais afetados em nosso município, ao passo que a questão da habitação e da infraestrutura recai de forma cada vez mais brutal sobre as cidades vizinhas, prejudicando a avaliação de seus governantes.
Desta forma, creio que a avaliação do prefeito de Santos permanece boa, em parte porque esta agenda “obreira”, por um lado, e segregacionista, por outro, identifica-se com os anseios dos crescentes setores médios da cidade, ainda que seja extremamente dolorido admitir isto.
Por fim, é importante ressaltar, ainda, que quanto maior a clivagem demográfica por renda, menor a dependência da população com relação aos serviços públicos municipais, inclusive aos serviços de saúde, haja vista a ampliação significativa dos titulares de planos de saúde, na região.

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