A implantação da Unifesp em Santos

A psique santista é surpreendente. No caso da relação da cidade com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ela mostra uma faceta um bocado contraditória.
Durante décadas, Santos sonhou com uma universidade pública e formou-se amplo arco de apoio político à luta pelo ensino público gratuíto na cidade. Uma luta tenaz e necessária, afinal onde se instalam universidades públicas, o desenvolvimento humano tende a crescer, com inegáveis benefícios para toda a comunidade.
No entanto, desde que a Unifesp se instalou em Santos, predominam as más notícias sobre a instituição, na mídia local. Para cada notícia acerca dos planos de expansão da universidade e suas consequências benéficas para o futuro da cidade, publicam-se três ou quatro sobre greves, falta de infraestrutura, problemas com as obras de construção de sua sede etc.
Problemas existem, é evidente. A instituição teve uma administração central desastrada (no mínimo), na época de sua instalação em Santos. Consequentemente, optou-se por um processo de expansão física bastante questionável, que resultou em movimento de resistência na área onde seriam desapropriados vários imóveis, na Vila Mathias. Isto contribuiu para a criação de um clima de animosidade, contra a universidade, em setores da sociedade.
Paralelamente, as obras de construção do novo campus sofreram atrasos expressivos, submetendo estudantes e funcionários à falta de infraestrutura adequada, para os cursos. Esta situação já gerou vários movimentos de protestos, mas qual obra pública não sofre atrasos?
E para completar, docentes e alunos decidem entrar em greve, como protesto pela defasagem salarial, problema que atinge outras instituições de ensino superior federais.
Respeito e apoio este movimento, como respeito os demais, mas creio que é importante resgatar, também, a agenda positiva da Unifesp.
Além da inauguração das novas instalações, ainda neste semestre, a instituição está implantando os cursos de Ciências do Mar, que reputo como dos mais importantes para nossa região. Estão previstos um curso de
tecnólogo nessa área, além de cursos de Engenharia Portuária, Engenharia de Pesca, Engenharia de Meio Ambiente e Oceanografia.
Estão sendo implantados, também, os primeiros mestrado e doutorado públicos da Baixada Santista, na área de Ciências da Saúde, área de concentração tradicional da Unifesp. A expectativa é atender os profissionais da região, de forma interdisciplinar.
A proposta pedagógica da Unifesp, em Santos, parece-me bastante inovadora e certamente vai resultar em grandes avanços para a Baixada, inclusive para as universidades privadas, pois tende a se criar um processo sinérgico, que deve ser aproveitado por todas.
Além deste aspecto, a implantação da Unifesp em uma área deteriorada da cidade, tende a promover uma renovação urbana interessante e que deve ser considerada de forma estratégica pela Prefeitura. É necessário que o Município dedique especial atenção para este processo, promovendo incentivos para a fixação de docentes e alunos na cidade, em especial na área de influência da universidade.
Caso haja este interesse, por parte do Município, é possível que haja um verdadeiro processo de recuperação daquela área, com consequências bastante positivas para a cidade.
É uma pena que durante a revisão do Plano Diretor esta discussão não foi aprofundada, mas ainda há tempo de promover intervenções e novas regulações urbanísticas nesta área, potencializando os efeitos positivos da implantação da Unifesp.

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