A estagnação da densidade demográfica na área insular de Santos

O cartograma e a tabela acima demonstram, respectivamente, o estado (2010) e a evolução da densidade demográfica na área insular de Santos (fonte: Censos Demográficos IBGE). O cartograma apresenta a densidade (habitante por Km²) em cada setor censitário, segundo o Censo 2010. A tabela apresenta a evolução demográfica, segundo os quatro últimos censos, conforme as principais zonas em que a área insular do município é dividida (ver observações nas notas de rodapé).
A principal constatação é de que, assim como a população total, a densidade desta área permanece praticamente inalterada, desde 1980. Mas ao se analisar as zonas, verifica-se algumas novidades.
Se por um lado a densidade permanece praticamente inalterda desde 1980, por outro há uma tendência de estagnação da redução da densidade no centro e da zona leste, ao passo que nos morros há tendência de estagnação do crescimento e na zona noroeste continua a haver crescimento, porém com menos intensidade.
Mas ao desdobrarmos a zona leste em duas áreas, orla e intermediaria, verifica-se ter havido uma queda da densidade nesta última, enquanto houve crescimento na primeira.
A correta interpretação destas mudanças pode ajudar a formular uma política urbana mais condizente com os problemas delas decorrentes. Portanto, arrisco-me a rabiscar algumas análises em caráter preliminar.
Penso que o esvaziamento do centro perdeu velocidade, porque a população que restou não encontrou melhor alternativa de localização, em função da mobilidade reduzida e ampliação da valorização em outras áreas populares como a zona noroeste.
Mas na próxima década é possível que tenhamos um novo agravamento do esvaziamento do centro, caso os empreendimentos corporativos na área pressionem os preços dos imóveis em demasia. Isto vai depender da eficácia do Alegra Centro Habitação. É ver para crer.
Quanto á zona noroeste, esta tem sido a alternativa mais viável de localização, dentro do próprio município, para as famílias que não podem mais arcar com o custo de vida na zona leste. Mas com a valorização dos imóveis naquela área, é possível que localizações com melhor infraestrutura, nos municípios vizinhos, tenham se tornado mais atraentes.
No tocante aos morros, não encontro uma explicação plausível para a pequena redução da população, pois áreas como Santa Maria, Caneleira e entorno tiveram um crescimento expressivo da ocupação, na última década. Basta comparar fotos aéreas para chegar a esta conclusão. Portanto, é possível que haja algum furo no recenseamento desses locais, onde há grande precariedade na ocupação. Outra hipótese é o encarecimento dos imóveis ter expulsado população para outros municípios. Mas acho esta hipótese menos provável.
No que respeita à zona intermediaria, creio que a redução da população se deve, por um lado, à consolidação de sua função de grande centro de comércio e de serviços especializados, de importância regional, e por outro, pelo encarecimento dos imóveis nesta área. Processo semelhante ocorreu, também, com algumas áreas do Gonzaga e do Boqueirão.
Os demais bairros da orla foram os que tiveram ampliação de população, o que se deve, provavelmente, ao grande número de lançamentos imobiliários nesta área. Por isso, a Ponta da Praia, bairro que possuía a maior quantidade de terrenos vazios de grandes dimensões, foi o que mais cresceu.
Contudo, quando saírem os dados censitários por nível de renda, será possível visualizar melhor se este processo está ou não marcado pela fixação de uma população de maior poder aquisitivo no local. Mas, desde já, arrisco a afirmar que houve uma seleção populacional, na orla, que promoveu maior concentração de renda nestes bairros.

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