Governo do Estado submerge 160 milhões de reais em aventura no Rio Pinheiros

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Foto Folha de S. Paulo: Estrutura montada sobre o Pinheiros, na Usina Termoelétrica Piratininga, na zona sul

Após 10 anos e R$ 160 mi, SP desiste de plano de limpeza do rio Pinheiros

RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO
 

Método de flotação recebia críticas desde que foi adotado, em 2001, pelo governador Alckmin
Novas propostas de despoluição serão apresentadas até o fim de outubro, segundo secretário de Energia

Folha de S.Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Após dez anos de investimentos públicos que chegaram a R$ 160 milhões, o governo paulista desistiu do plano de limpar o rio Pinheiros pelo método de flotação.
A ideia era levar parte da água despoluída para a represa Billings, o maior reservatório da Grande São Paulo.
O sistema encampado em 2001 pela gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) consiste em reunir a sujeira em flocos na superfície da água para posterior remoção. No Pinheiros, o método se mostrou ineficiente e caro.
Mantê-lo exigiria novos investimentos sem certeza de êxito, diz o governo paulista.
A aposta de 2001 foi inédita: nunca havia se tentado limpar água via flotação num rio do porte do Pinheiros, com 25 km. A tecnologia é usada em lagos e mineração.
No lançamento do plano, especialistas já alertavam para o risco de fracasso. "A flotação foi um erro. A poluição do Pinheiros é de esgoto doméstico. O conceito [de flotação] era deixar o cocô e o xixi viajar pelo rio, causar um monte de doenças, para depois coletar os resíduos. Tem que tratar o esgoto", diz Ildo Sauer, professor da USP, crítico do plano desde 2001.
O governo manteve a defesa firme do método nesses quase dez anos. Classificava-o de "simples e inovador". Agora, buscará alternativas. Propostas serão recebidas até o fim de outubro, diz o secretário de Energia, José Aníbal.

'Ganhamos conhecimento', diz secretário
O secretário José Aníbal (Energia) diz que o montante investido na flotação "não se perde", pois "se acumulou muito conhecimento". O Estado investiu R$ 80 milhões, recurso da venda de energia da usina Henry Borden -a outra metade saiu da Petrobras.
"Não vou continuar pondo dinheiro em experimento. Tem que ter um grau de certeza [de que funciona]."
Ele diz que, quando assumiu o cargo, em janeiro, o cancelamento da flotação já estava em curso. A responsável em 2010 era a então secretária Dilma Pena, que não quis dar entrevista à Folha.
Agora, o governo estadual quer reforçar o tratamento do esgoto despejado no rio Pinheiros (para evitar a chegada de poluição) e substituir o processo de flotação (para limpar o que já está sujo).
O secretário receberá sugestões de soluções até o dia 25 de outubro. Entre os planos já apresentados está a construção de uma estação de tratamento perto do Cebolão, de R$ 1 bilhão.
Secretário de Energia em 2001, Mauro Arce não quis falar. Ricardo Tripoli, titular do Meio Ambiente à época, não pôde atender à Folha ontem à noite. A Petrobras não respondeu à reportagem.

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