Estadão: "Boom" imobiliário faz trânsito do litoral piorar

Em matéria do jornalista Márcio Pinho (abaixo), publicada no Estadão deste domingo, fica evidente a associação entre o aumento da atividade imobilária no centro do litoral paulista e a piora no trânsito regional, nos últimos anos. Boa leitura.

Em 10 anos, frota do litoral dobra. E o trânsito só piora
Boom imobiliário faz Santos, Praia Grande e Guarujá ganhar 7,3 mil vagas somente em 2011; infraestrutura não acompanhou
Domingo, 13 de Novembro de 2011, Caderno Cidades, p. C6.
MÁRCIO PINHO

O feriado prolongado no litoral será, mais uma vez, sinônimo de trânsito. Mas o que muitos turistas não sabem é que os congestionamentos ocorrem também nos dias úteis, de segunda a sexta-feira. Os arranha-céus que estão sendo inaugurados neste ano em Santos, Guarujá e Praia Grande criarão 7.310 vagas de veículos, contribuindo para um problema que parece sem fim: a explosão da frota e do trânsito nessas cidades.

A quantidade de veículos cresceu 94% nos últimos dez anos nesses municípios. Hoje, são 434 mil veículos. Especialistas em transportes consultados pelo Estado consideram essa oferta de vagas para veículos nos novos empreendimentos forte incentivo ao uso do transporte individual e dizem que a infraestrutura não evoluiu no mesmo ritmo.

Santos, que tem área menor que a abrangida pela Subprefeitura da Lapa, em São Paulo, surfa na onda do pré-sal e tem vários lançamentos de prédios de mais de 30 andares e seis vagas na garagem por unidade. É a cidade que mais ganha vagas - 3.403 neste ano, segundo a empresa de consultoria Geoimovel.

Mas para usufruir desse crescimento é preciso primeiro conseguir entrar na cidade. A chegada pela Rodovia Anchieta trava na hora do rush e especialmente em época de safra, por causa da grande quantidade de caminhões. Para ir do centro à praia, a reportagem levou 30 minutos ao longo dos 3 km da Avenida Conselheiro Nébias, às 19h de quinta-feira. Normalmente, o trajeto é feito em dez minutos. O fluxo na avenida da praia também para no limite com São Vicente.

Para a professora de Logística do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte) de Santos, Patrícia Bertozzi, o impacto do modelo de crescimento é evidente. "Se uma casa tem 2 vagas, um prédio que passe a ocupar o mesmo terreno pode ter 80. Falta uma política de uso do solo ordenada e que considere os impactos no trânsito e em outras áreas, como no esgoto."

Ela pede melhorias no transporte público, como a criação de um bilhete único que integre os ônibus das cidades.

Guarujá. A Praia da Enseada é a que passa pelas maiores transformações, com pelo menos cinco lançamentos. Entre eles, há opção de quatro vagas privativas. Perto dali, a Avenida Dom Pedro I, que leva ao centro, eventualmente fica congestionada. Assim como a Avenida Adhemar de Barros, que leva à balsa para Santos, onde a espera para atravessar chega a 40 minutos em horários de pico.

A Praia Grande tem empreendimentos de luxo como A Ilha, com mais de 250 unidades. É a cidade onde a frota mais cresceu nos últimos dez anos, 230%, mas que ainda depende de um único eixo principal de tráfego para entrar e cruzar todos os bairros da cidade. É o eixo Avenida Ayrton Senna/Via Expressa Sul, congestionado todos os dias.

A bióloga Carolina Pacheco, de 34 anos, é uma das vítimas. Conta que levava de 20 a 30 minutos para fazer o trajeto diariamente até o centro de Santos. Uma década depois, leva 1h20. "Não adiantar pegar caminho alternativo", diz.

O engenheiro especialista em transportes Horácio Figueira afirma que o crescimento imobiliário se complementa ao modelo adotado no Brasil, de privilegiar o carro. Ele afirma que há uma relação direta entre o oferecimento de vagas em edifícios e o aumento da frota, ainda mais em uma região com poucos estacionamentos. "Sem investimentos em ônibus e com essa dependência do automóvel, as cidades chegarão ao colapso, até econômico, pela dificuldade de circular." Ele defende mais ciclovias.

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