Água demais e alerta de menos

Foto: A Tribuna (4/4/2012, p.A-4)

Andei submerso nesta Páscoa, a meditar sobre a chuvarada do último dia 3 e suas consequências. Inconformado com as notícias publicadas no dia seguinte e já tendo alguma experiência em lidar com os efeitos de chuvas fortes, em Santos, fui procurar quem entende muito do assunto e por isso tenho algumas considerações a fazer.
Primeiramente, é importante dizer que desconfiei um pouco do índice pluviométrico divulgado na imprensa, no dia seguinte ao toró: 48mm, entre 21 e 24 horas. Assim, pelo menos onde eu estava (Gonzaga), pareceu-me que havia chovido muito mais do que informado.
Ao buscar informações com uma técnica que conhece o sistema de defesa civil de Santos como ninguém, fiquei sabendo que por aqui temos dois pluviômetros ativos: um no Saboó e outro na Ponta da Praia. Contudo, o primeiro, operado pela Sabesp, é o efetivamente utilizado para fornecer informações à Defesa Civil.
Portanto, talvez a questão da localização explique a discrepância entre o que choveu de fato, na Zona Leste da cidade, e os 48mm informados. Assim, creio ser necessária a ampliação da rede de pluviômetros, desde que haja manutenção adequada dos mesmos e profissionais habilitados para operá-los, sempre que necessário.
Em segundo lugar, já não é mais possível tolerar que este tipo de evento climático pegue a Cidade inteira de calças curtas, sem que a Defesa Civil ofereça aos cidadãos e cidadãs um sistema eficiente de alerta. Ressalto que não me refiro unicamente a um sistema como o que deve existir nos Morros, no que concerne ao risco de escorregamentos. Refiro-me, neste caso, a um sistema de alerta de inundações dos logradouros da planície.
Creio ser perfeitamente possível montar um sistema de alerta eficiente, com base no mapeamento das sub-bacias de drenagem e com as previsões de precipitações pluviométricas, cada vez mais confiáveis, assim como com a leitura da tábua de marés, disponibilizada na internet, pela Marinha do Brasil.
No dia 3/4, por exemplo, a chuva forte coincidiu com a elevação da maré, situação que demanda precauções extras por parte de quem vive em áreas muito baixas. Nestas áreas, quando temos marés muito altas que coincidem com chuvas fortes, mesmo que o sistema de drenagem esteja funcionando perfeitamente, é provável que haja alagamentos.
Um sistema bem simples poderia ser montado, em que cidadãos e cidadãs se cadastrassem no site da Prefeitura, informando seus domicílios e número dos telefones celulares. Com base nesta informação, o sistema georreferenciaria o número do celular, para que, em situações de risco de inundações, o cadastrado pudesse ser alertado, por SMS, com antecedência e assim pudesse adotar providências para minimizar os danos.
Talvez este sistema pudesse ser testado inicialmente nos milhares de condomínios verticais da Cidade, por meio do cadastramento dos respectivos síndicos.
A implantação de um sistema desses não prescindiria de investimentos sempre prometidos, mas nunca realizados, para ampliação e melhoria do sistema de drenagem de Santos, nem da manutenção do sistema existente, incluindo a necessária educação ambiental da população.
Enquanto os Novos Tempos não chegam, que tal dar um pouco de satisfação a quem paga altíssimos impostos, para ficar com água até o pescoço, a cada toró que despenca por aqui?
E olha que, felizmente, não tem chovido com tanta frequência nos últimos tempos!

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