O aumento do nível do mar e a relutância em adotar medidas preventivas

A Folha publicou as reportagens abaixo que merecem nossa atenção, especialmente porque a atitude diante do avanço do mar, por parte dos municípios e outros órgãos públicos, tem sido exclusivamente reativa e nada preventiva.
A pesquisa do professor Alfredini, mencionada abaixo, foi objeto de discussão pelo mandato da vereadora Cassandra Maroni Nunes (PT/Santos), há vários anos atrás, mas suas contribuições para o debate, aqui em Santos, entraram e saíram pelos ouvidos dos que deveriam estruturar políticas de prevenção às consequências deste avanço.
Enquanto isso, praias são engolidas e os órgãos responsáveis limitam-se a erigir enrocamentos, que muitas das vezes também são engolidos pelas ressacas cada vez mais recorrentes e fortes.
Quando prevenção será a nossa praia?


Mar avança e 'engole' 120 praias no país



Em São Paulo, Ubatuba, São Sebastião e Caraguá erguem muros contra maré; na Paraíba, erosão atinge 50% do litoral.
A partir deste mês, com início da temporada de ressaca, oceano se move de forma mais agressiva rumo à costa brasileira.




GIBA BERGAMIM JR.
ENVIADO ESPECIAL AO LITORAL NORTE


Moradores e turistas da praia de Porto Grande, em São Sebastião, olham o mar bater forte nos muros de contenção. Eles se recordam do tempo em que era preciso caminhar na areia por 30 metros antes de mergulhar naquele trecho do litoral.
Os muros aguentam, mas não diminuem o medo de que o mar engula a comunidade ali, como já ocorreu em praias de toda a costa brasileira.
Levantamento feito pela Folha com base no estudo "Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro" mostra que ao menos 120 praias já foram atingidas pela erosão de forma severa em todo o litoral.
Nenhum órgão sabe quanto esse número significa em extensão -há cerca de 8.500 km de praias no país. O que se tem certeza é que quase todo o litoral sofre. Na Paraíba, por exemplo, 50% das praias registram erosão.
Praias badaladas e paradisíacas estão na lista: de Jurerê, Canasvieiras, Santinho e Ingleses, no litoral catarinense, às de Caravelas (BA) e Maragogi (AL), no Nordeste.
O problema coincide com a constatação de estudiosos de que o nível do mar vem aumentando. Esta é uma das prováveis causas da erosão, mas não necessariamente a principal, segundo o professor da UFRJ Dieter Muehe, que organizou o estudo.
Para ele, esgotamento de fontes naturais e construções desordenadas que interrompam o fluxo da areia são grandes causadores.
A partir deste mês, o mar começa a avançar de forma mais agressiva em direção à costa, quando tem início o período de ressacas. Segundo o Centro de Hidrografia da Marinha, as costas sul e sudeste são as mais afetadas pelo fenômeno, causado por ciclones extratropicais intensos.
Na iminência da ressaca e de possíveis erosões, Ubatuba e Caraguatatuba tentam se proteger: muros de contenção são erguidos, respectivamente, nas praias Grande e Massaguaçu. Na primeira, a prefeitura está construindo uma mureta de concreto para proteger banhistas e comerciantes. Dois quiosques foram atingidos.

Cadê a praia?
Nível do mar sobe e ondas são mais altas, diz estudo da USP

Um estudo do professor de engenharia da USP Paolo Alfredini aponta não só que o nível do mar está subindo como a intensidade das ondas também é maior.
Para ele, esse é um dos causadores da erosão. O pesquisador analisou marégrafos de cinco pontos espalhados pelo país -Cananeia, Santos, Ubatuba, Recife e Belém- e constatou o aumento.
Nos cálculos dele, Santos, por exemplo, teve aumento do nível médio em cerca de 4 centímetros por década, entre 1976 e 2007. Em Recife, entre 1947 e 1987, o aumento foi de 5,2 centímetros por década.
Em outro estudo, ele constatou que a altura das ondas aumentou em 20% entre 1957 e 2002. Com isso, o impacto provocado por elas aumentou, ajudando a arrancar mais areia das praias.
De acordo com o engenheiro Roberto Teixeira Luz, do IBGE, nem sempre é o mar que está subindo, mas a crosta terrestre que pode estar afundando. Isso pode ocorrer por vários motivos, entre eles falhas geológicas ou afundamento do solo por conta da retirada de água do lençol freático.
Para o pesquisador Dieter Muehe, a elevação do nível do mar não é necessariamente a maior culpada.
Estudos feitos em 16 Estados mostram que é comum no litoral a construção de barragens nos rios. Com isso, os sedimentos fluviais que são carregados até as praias passam a não chegar, diminuindo o volume de areia que deveria reabastecer o estoque que é levado pelas ondas.
EROSÃO
Em Massaguaçu (Caraguatatuba), para evitar que o mar invada a rodovia Rio-Santos, rochas surgiram e mudaram o cenário. Elas formam a barreira de contenção que está sendo construída pelo DER. Deve ser finalizada até junho.
Perto dali, na praia Grande de Ubatuba, donos de quiosques contam prejuízos com o avanço do mar.
"A maré subiu e começou a castigar o muro. A água afetou uma coluna, que ruiu, e o teto veio abaixo", conta o comerciante Carlos José de Souza, 40. Após reformas, ele diz que a estrutura está preparada para a ressaca que está por vir. Em férias na praia Grande, a dona de casa Maria Angela Pereira, 59, diz que acorda com o barulho do mar cada vez mais forte.
"O mar está subindo cada vez mais. Parece que a onda está dentro do apartamento. Antigamente, a gente ouvia de longe", lembra a turista.

Leia o original aqui.

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