"Passarelas" sobre vias públicas: você ainda vai ter uma sobre a sua cabeça?

Como divulgamos no post que pode ser lido aqui, a Prefeitura de Santos promoveu audiência pública, na noite de ontem, para apresentar o projeto de lei que autoriza a construção de passadiços privados, batizados de "passarelas", sobre vias públicas. Saiba mais na matéria abaixo, publicada na edição de hoje de A Tribuna.
No post em questão menciono outros posts, nos quais faço maiores considerações sobre a questão. Mas na noite de ontem tudo parece ter seguido o script previsto: da mesma forma como ocorreu na última reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU), representantes do setor imobiliário apresentaram proposta de estender a autorização, que na proposta do Executivo é limitada às áreas portuárias, para outras áreas da cidade. O maior interessado pelo pleito, todos que acompanham o mercado imobiliário de Santos conhecem.
A justificativa da Prefeitura para a proposta é de que a construção da Avenida Perimetral separou as áreas administrativas de empresas de suas áreas operacionais, obrigando trabalhadores a cruzar a via sem segurança.
Quem conhece a legislação urbanística de Santos sabe que, em outros tempos, a prática era conceder autorização legal específica para cada solicitação de uso do espaço aéreo, para passagem de dutos, esteiras e outros meios de transporte de granéis. Portanto, a mesma alternativa poderia ter sido usada desta vez, sem que se abrisse a possibilidade de transformar o projeto em oportunidade para enfeiar ainda mais nossas ruas e avenidas.
Assim, resta saber porque o Executivo preferiu elaborar uma lei geral para a questão, ao invés de autorizar especificamente que cada empresa "dividida" da área portuária construa sua própria passarela. Isto no caso de não haver solução técnica mais conveniente, do ponto de vista urbanístico, é claro.
Mas a nota irônica da notícia abaixo é o argumento utilizado pelos representantes do setor imobiliário, de que tais passadiços são necessários por "questão de mobilidade urbana". É realmente curioso. O setor imobiliário salpica a cidade de torres com milhares de vagas de automóveis, coloca em xeque o pouco que ainda temos de mobilidade e agora quer colocar, sobre nossas cabeças, a solução para o problema que ajudou a criar. Solução esta, que atenderá os poucos privilegiados que as poderão acessar.
Ao que parece, a novela ainda vai render alguns capítulos. Vamos aguardar, até onde vai a falta de cerimônia do setor imobiliário e a responsabilidade das autoridades responsáveis.


Comentários

  1. Realmente o termo mobilidade urbana nunca esteve tanto na boca do setor imobiliário como agora. Surpreendente!
    As justificativas também estão incrivelmente fundamentadas, já estão todos pensando em passarelas por conta do trajeto do vlt. Mas o fato é que o mesmo não é um trem, onde tudo se precisa cruzar em nível. Ele inclusive vai estar coordenado com o resto dos fluxos do sistema viário. Ou seja atravessar um trecho dele não necessariamente vai ser tão difícil assim, ou estou enganado?
    http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e3/MetroRail.jpg
    Sei que existem sistemas em que o vlt fica mais segregado da via e pára menos, mas no caso de Santos, apesar do aproveitamento do leito ferroviário, acredito que é impossível evitar paradas frequentes...

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