De olho no lixo

O jornal A Tribuna vem publicando uma série de reportagens sobre a situação da limpeza urbana nos bairros de Santos, denominada "De quem é este lixo?". É uma iniciativa bem legal, que faz um raio X da questão e ainda propõe uma metodologia de classificação dos bairros, segundo alguns critérios de asseio dos respectivos logradouros.
Na página A-5 da edição desta quarta-feira, saiu publicada mais uma avaliação da situação, desta vez enfocando o Centro e o Gonzaga. A matéria pode ser lida aqui.
Na mencionada matéria, a jornalista Alcione Herzog informa que, segundo os referidos critérios, estes bairros talvez sejam os mais aceitáveis, em termos de limpeza, apesar do intenso movimento de pessoas, pois são os maiores pólos comerciais da cidade.
Como possível explicação para este fenômeno, é apontada a existência de muitas lixeiras nestes bairros, o que de fato ajuda a manter as ruas mais limpas, mas na minha opinião não explica totalmente a questão.
Creio que, além da maior oferta de lixeiras, um fator que concorre para o maior asseio das vias destes bairros é a existência de estabelecimentos comerciais em maior número. Este fator, acaba por demandar um sistema de coleta e varrição diferenciado dos demais bairros. Além disso, como afirmava a crítica de urbanismo Jane Jacobs, as atividades comerciais são os olhos das ruas.
Segundo a autora do clássico "Vida e Morte das Grandes Cidades Americanas", os logradouros ondem o comércio é intenso tendem a ser mais seguros, pois são mais movimentados e a própria população e comerciantes se encarregam de exercer vigilância sobre o espaço público.
Ao contrário destas áreas, bairros em que predominam imóveis residenciais ou de outra natureza, em que não há contato destes diretamente com a rua, tendem a ser mais inseguros e sujos.
Portanto, penso que o intenso movimento destes bairros, aliado à maior disponibilidade de lixeiras e à limpeza urbana mais frequente, explicam a melhor situação neles encontrada.
Nos demais, conforme a série jornalística vem demonstrando, o asseio dos logradouros vem sendo considerado muito ruim.
Assim, espero que as autoridades competentes façam uso destas preciosas informações, para o desenvolvimento de uma política de gestão de resíduos urbanos mais eficiente e menos marqueteira.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Remoções na Entrada da Cidade: o que houve com o Conjunto Habitacional da Prainha do Ilhéu?

Como as avenidas morrem

APA Santos Continente: reavivando a memória