Gentrificação colorida
No início deste mês faleceu Neil Smith,
professor de Antropologia e Geografia da City University
of New York. Smith cunhou a expressão “gentrification”, já adaptada para o
português como “gentrificação”, para designar processos de expulsão de
moradores de áreas centrais, decorrente da valorização imobiliária resultante
das experiências de renovação urbana.
E por falar em gentrificação, o
processo de transformação por que passa o bairro do Valongo, em Santos, muito
provavelmente resultará em algo semelhante, pois não foi adotada qualquer
medida, no âmbito da política urbana, para impedir a expulsão de moradores e
comerciantes que atuam no bairro. Incluo aí a população de rua, que freqüenta
áreas extremamente degradadas da área.
Recordo-me que, no processo de
discussão do projeto de lei complementar que criou o programa Alegra Centro
Habitação, os representantes da Prefeitura não aceitaram incluir o Valongo na área
de abrangência do programa, destinado a transformar cortiços em residências
dignas para população de baixa renda.
Na verdade, os processos de
renovação articulados a experiências de recuperação do “waterfront”, como o
alardeado projeto Porto-Valongo, costumam provocar marcante substituição de
população, como ocorreu em diversas cidades onde estas experiências foram
implantadas, como Barcelona e Baltimore.
E nesta área, mesmo que este
projeto não saia do papel, a implantação de alguns empreendimentos, como a sede
da Petrobras, o Museu Pelé e alguns empreendimentos imobiliários de grande
porte, vão provocar transformações relevantes no perfil dos moradores e
comerciantes.
Um indício de que os promotores
imobiliários que já atuam no bairro não estão satisfeitos com o aspecto local é
a pintura de fachadas das edificações da Rua Alexandre Gusmão, conforme foto
acima. Como moradores e comerciantes não podem ser pintados, eles que se
cuidem, pois os dias parecem estar contados.
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