A complexa logística das remoções do programa Santos Novos Tempos

Santos: logística das remoções de população residente em assentamentos precários
(clique na figura para ampliar)
A figura acima é parte de uma apresentação do programa Santos Novos tempos, da Prefeitura de Santos, que tem como um de seus principais objetivos implantar um novo sistema de macrodrenagem na Zona Noroeste do município, em conjunto com projetos de reurbanização de assentamentos precários e de implantação de novos conjuntos habitacionais.
Conforme mencionei no post anterior, uma das intervenções em andamento consiste na remoção de mais de mil famílias residentes em favelas situadas nesta área da cidade, para um novo conjunto habitacional a ser implantado no Tancredo Neves, em São Vicente, onde serão construídas 2.240 unidades.
Conforme se observa na figura, trata-se da área a esquerda do mapa, que é a mais remota da Ilha de São Vicente, com relação às áreas com maior oferta de empregos e de serviços de ambos os municípios. Segundo o esquema de cores, o referido conjunto, construído pela COHAB Santista, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), deve receber 1.120 famílias das favelas do São Manoel e Dique da Vila Gilda.
Inicialmente previa-se que o empreendimento ainda viesse a receber outro contingente de moradores de assentamentos precários de São Vicente, que também desenvolve um projeto de macrodrenagem na área insular, articulado com intervenções de cunho habitacional. No esquema do mapa há previsão de transferência de famílias do Dique do Sambaiatuba, mas em setembro foi veiculado pela imprensa local que a demanda seria preenchida por sorteio (saiba mais aqui).
No caso de Santos, na melhor das situações (Dique da Vila Gilda) a distância supera os quatro quilômetros, medidos em linha reta, sem considerar os gargalos viários e deficiências do sistema de transporte coletivo.
No caso do São Manoel, a distância é maior ainda, pois implica no deslocamento por meio da Marginal da Via Anchieta, eixo das avenidas Nossa Senhora de Fátima, Antonio Emmerich e da Linha Azul.
Há alguns anos, quando a COHAB anunciou o projeto do Tancredo, foi aventada a possibilidade de implantação de um sistema hidroviário de transporte de passageiros, ligando o núcleo às áreas centrais. Contudo, até o momento não se tem notícias de providências concretas neste sentido.
Portanto, a possibilidade de aprofundamento da segregação socioespacial, com a implantação deste projeto, é concreta e deveria ser objeto de sua revisão, caso as políticas habitacionais municipal e federal considerassem efetivamente com mais cuidado os vínculos sociais e econômicos das famílias atendidas.

Comentários

  1. Excelente análise, principalmente pelo olhar voltado à segregação socioespacial e os vínculos sócio-econômicos das famílias.

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