Túnel da Zona Noroeste: no meio do caminho tinha um prédio e muita ignorância também


Sou co-autor da proposta de construção do Túnel de ligação entre as zonas leste e noroeste de Santos, com prolongamento pela Linha Azul de São Vicente, interligando também a Rodovia dos Imigrantes.
Entre 1990 e 1994 participei da equipe da Secretaria de Planejamento da Prefeitura de Santos, juntamente com os arquitetos Sania Baptista e Enzo Gambini, e com vários desenhistas como Júlio, Jaciara, Wilson, Luizinho, Laura e outros, quando fizemos a revisão do Plano Regulador de Desenvolvimento e Expansão Urbana, elaborado pelo urbanista Prestes Maia (Lei Municipal N° 3.516/51). Nesta revisão estabelecemos a alteração da diretriz de construção de um túnel ligando os bairros Saboó e Jabaquara, que permitiria o acesso da zona leste à Via Anchieta, sem atravessar o centro.
Na década de 1990 este traçado já se tornara inviável, em função das muitas desapropriações e remoções necessárias, além de o Cemitério da Filosofia estar no traçado proposto por Maia.
Desta forma, propusemos o novo traçado ligando o Marapé à Vila São Jorge, possibilitando, assim, a ligação da zona leste com a Rodovia dos Imigrantes, através da atualmente denominada Linha Azul, de São Vicente.
Durante anos acompanho angustiado o desenrolar da novela de construção deste túnel, inclusive a total falta de interesse nesta ligação, por parte da Prefeitura de São Vicente.
Mas a diretriz viária da Lei Complementar N° 151/94, que estabeleceu o geométrico do novo traçado do túnel, prevê uma curva suave para que seu acesso “escape” do território vicentino, em sua embocadura, na Vila São Jorge. Naquela época já antevíamos resistências por parte de São Vicente.
Contudo, o renque de casas construídas há mais de dez anos (foto acima) já dificultou muito a implantação deste acesso, pois restou apenas cerca de 24,50 m de largura livre, entre um dos prédios do Conjunto dos Estivadores (em Santos) e o referido renque de casas, o que talvez implique em ter que estreitar o acesso ao túnel neste ponto, embora considere preferível a desapropriação destas casas.
Mais recentemente a Prefeitura de São Vicente permitiu a construção de um prédio com três pavimentos (que aparece nas duas imagens do Google Earth), que complica as coisas ainda mais.
Nesta mesma via, denominada avenida Francisco da Costa Pires, em Santos e avenida Divisória, em São Vicente, outro “obstáculo” é a escola estadual Neves Prado, na Praça Estado de Israel, que seguindo a tradição da nossa terra, foi construída em praça pública.
Contudo, o prefeito de Santos já se manifestou recentemente contrariamente a este traçado, embora fosse vice-prefeito na época em que o prefeito anterior licitou o projeto executivo e a topografia (2004).
Na ocasião a versão oficial para o engavetamento do projeto era ausência de informações no processo de licenciamento ambiental, por parte da Prefeitura de Santos.
Li declarações imputadas ao prefeito, de que um traçado mais interessante seria entre os bairros Jabaquara e Caneleira, o que revela, no mínimo, falta de visão metropolitana da questão, pois assim se inviabiliza a possibilidade de interligar a zona leste a a área central de Santos à Linha Azul e à Rodovia dos Imigrantes, implantando-se um corredor de ônibus neste eixo, que atenderia os bairros Tancredo, Cidade Náutica, Vila Jóquei, Sambaiatuba, Pompeba, Vila São Jorge, Marapé, Vila Belmiro, Vila Mathias e outros, reduzindo enormemente o tempo de viagem para milhares de trabalhadores.
Como diria Drummond, no meio do caminho tinha um prédio e muita ignorância também.

Comentários

  1. Será que agora,finalmente,esse túnel sai do imaginário pro concreto?Espero que sim.

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