Prefeito de Santos não enxerga a realidade e admite ignorar política urbana inclusiva

Os dados mais significativos da entrevista do prefeito de Santos, concedida ao jornalista Leonardo Costas, de A Tribuna, e publicada na edição de hoje do jornal (acima), são a recusa em admitir a realidade social da cidade que governa há 7 anos e a admissão de sua ignorância quanto à existência de instrumentos de política urbana, que estão ao seu alcance e podem mitigar os problemas extremamente graves produzidos pela condução desta política.
Quanto à recusa da realidade, já me manifestei no post "Santos, o Censo 2010 e o telescópio de Galileu". Trata-se do caso típico de quem não enxerga o que não quer ver. Dados comprobatórios do processo de clivagem social de Santos existem às pencas. Uma boa fonte é o trabalho do professor Jakob Heichman, da Unicamp, que pode ser acessado aqui.
Quanto à ignorância dos instrumentos de política urbana, trata-se de uma questão puramente ideológica, pois o prefeito já foi secretário de planejamento e conhece muito bem o Estatuto da Cidade e todos os instrumentos que esta lei federal disponibiliza para que os municípios enfrentem a segregação socioespacial. Mas para aplicá-los, é necessário que se tenha interesse, o que evidentemente não é o caso, como se observa em cada linha da referida entrevista.
Ao afirmar que Santos sempre foi uma cidade elitizada, o que não é verdade, o prefeito admite a elitização, mas a justifica a partir de uma posição repleta de indiferença para com aquelas famílias mais pobres que governa.
Papa procura argumentar que "seus" programas habitacionais dão conta da demanda habitacional pelos mais pobres e cita números de "sua" produção habitacional de interesse social absolutamente abaixo das necessidades. O prefeito demonstra ignorar a luta das famílias pelas melhores localizações, próximas ao trabalho e ao estudo, quando considera "preconceito" a posição daqueles que (como eu) condenam a migração para outros municípios.
Ora, é preciso ser muito insensível para não admitir que a maior quantidade e os melhores empregos da região estão em Santos e que milhares de famílias de baixa e média renda mudaram-se para municípios vizinhos, nas últimas décadas, por falta de alternativa habitacional.
Estas famílias, em grande parte, continuaram a trabalhar em Santos, deslocando-se diariamente, no trânsito caótico que sua política urbana ajudou a criar.
Preconceito é não trabalhar para fixar estas famílias junto aos seus empregos. No mais, creio que o prefeito deveria passar uns tempos em Praia Grande, para conhecer melhor as carências desta bela cidade, que com sua falta de ação está ajudando a esculhambar.

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